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Como Lidar com o Luto? O Papel da Psicoterapia no Processo de Elaboração

  • Foto do escritor: Tássia Barbosa Oliveira
    Tássia Barbosa Oliveira
  • 31 de jan.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 22 de jun.

O luto não acontece apenas após a morte de alguém querido. Ele pode estar presente em diversas formas de perda: o fim de um relacionamento, mudanças bruscas na vida, a perda de um trabalho ou mesmo a transição para uma nova fase que exige abrir mão de algo do passado.

Diferentes teorias abordam o luto, mas todas concordam que ele não se trata apenas de "seguir em frente". Ele envolve um trabalho psíquico de achar um novo lugar para todo o investimento emocional que foi feito naquilo que foi perdido. Envolve reconhecer a ausência, dar espaço à dor e, aos poucos, ressignificar essa perda dentro da própria narrativa. É um processo natural e complexo, com suas próprias fases e intensidades, que afeta cada pessoa de maneira única. Em meio à dor e à saudade, muitas vezes nos perguntamos: como lidar com o luto? É nesse momento que a psicoterapia e o apoio profissional podem ser fundamentais para auxiliar na elaboração do luto e na reconstrução da vida.


O que é o Luto e suas Fases?

O luto não é apenas tristeza. É um conjunto de reações emocionais, físicas, sociais e espirituais à uma perda significativa. É importante saber que não existe uma forma "certa" de vivenciá-lo, e o tempo necessário para a elaboração varia muito.

Classicamente, o luto é compreendido em fases que podem não ser lineares, ou seja, a pessoa pode ir e vir entre elas:


  • Negação: Uma reação inicial de choque e incredulidade. A mente, por um tempo, se recusa a aceitar a realidade da perda.

  • Raiva: Sentimentos de frustração, indignação e revolta podem surgir, direcionados a si mesmo, à pessoa que se foi, a outros ou até mesmo à vida.

  • Barganha: Uma tentativa de negociar com o destino, com Deus ou com a própria dor, buscando formas de reverter a perda ou minimizar o sofrimento. É a fase marcada por pensamentos do tipo "E se...?" e promessas.

  • Depressão: Um período de profunda tristeza, isolamento, desesperança e reflexão sobre a ausência. Esta fase é essencial para a vivência da dor.

  • Aceitação: Não significa esquecer ou ficar feliz com a perda, mas sim aprender a conviver com a ausência, reorganizar a vida e encontrar um novo sentido. É um processo de adaptação à nova realidade.


Os Impactos do Luto no Inconsciente

O luto não se restringe à tristeza. Ele pode aparecer como irritabilidade, dificuldade de concentração, cansaço constante ou até mesmo como uma sensação de vazio difícil de nomear. Em alguns casos, podem surgir crenças limitantes, como a ideia de que sentir dor significa fraqueza ou que é necessário esconder o sofrimento para proteger os outros.

A inteligência emocional e a resiliência não significam "superar rápido", mas sim permitir que o luto siga seu curso, sem bloqueios que impeçam sua elaboração. Quando não há espaço para isso, o luto pode se transformar em algo patológico, levando a quadros de ansiedade, depressão ou até mesmo a um afastamento emocional da própria vida.

Apesar de ser um processo natural, o luto pode se tornar excessivamente prolongado ou intenso, afetando gravemente a qualidade de vida. Falamos em luto complicado (ou luto prolongado complexo) quando a pessoa tem dificuldade persistente em aceitar a perda, em processar a dor e em retomar suas atividades diárias por um período muito estendido (geralmente mais de 6 a 12 meses, dependendo do contexto).

Sinais de que o luto pode estar se tornando complicado incluem:


  • Intensa saudade e preocupação com o falecido por um longo tempo.

  • Dificuldade extrema em aceitar a morte.

  • Sentimento de que a vida não tem sentido sem a pessoa.

  • Problemas para retomar atividades rotineiras, como trabalho ou hobbies.

  • Isolamento social severo.

  • Pensamentos persistentes sobre a morte ou desejo de morrer.

  • Uso excessivo de álcool ou outras substâncias.

  • Sintomas depressivos ou ansiosos graves e duradouros.


Se você se identificar com esses sinais, buscar o apoio de um profissional de psicologia é fundamental.


O Papel da Psicoterapia na Elaboração do Luto

A terapia para luto pode ser fundamental quando a dor se torna paralisante, quando há sentimentos intensos de culpa ou quando a perda parece impedir qualquer retomada da vida. Mas mesmo quando não há sinais extremos, a psicoterapia pode ser um espaço para elaborar o luto de forma mais consciente, compreendendo como ele se inscreve na própria história e quais caminhos podem surgir a partir dele. O psicólogo ou psicanalista atua como um facilitador no processo de elaboração do luto, ajudando a:


  • Validar e Normalizar as Emoções: No processo terapêutico, o paciente entende que a tristeza, a raiva, a culpa e até o alívio são reações normais ao luto, combatendo a ideia de que precisa ser "forte" o tempo todo.

  • Processar a Dor e a Ausência: Através da fala e da escuta, a terapia permite que o enlutado revisite memórias, nomeie e explore os sentimentos relacionados à perda e entenda o impacto da ausência na sua vida. Isso é crucial para que a dor possa ser gradualmente integrada.

  • Ressignificar a Relação com o Falecido: A terapia auxilia a pessoa a encontrar novas formas de se relacionar com a memória do ente querido, mantendo o vínculo afetivo de uma maneira que não impeça o prosseguimento da vida.

  • Desenvolver Estratégias de Enfrentamento: O profissional ajuda o paciente a desenvolver recursos para lidar com a saudade, os gatilhos de dor e as novas demandas da vida sem a presença do falecido.

  • Reconstruir a Identidade e o Sentido da Vida: A perda pode desorganizar a identidade e o propósito. A psicoterapia acompanha a pessoa na busca por um novo sentido para a vida, novos objetivos e na reorganização de seu papel no mundo.

  • Prevenir Complicações: Ao oferecer suporte e ferramentas desde o início ou durante o processo, a terapia ajuda a evitar que o luto se transforme em um transtorno mais grave, como depressão maior ou transtorno de ansiedade.


"Vela acesa rodeada por flores claras, simbolizando memória, cuidado e o processo de acolhimento das emoções no luto."
A terapia ajuda a elaborar o luto.

Dicas Práticas para Navegar pelo Processo de Luto

Enquanto você busca ou considera o apoio profissional, algumas atitudes podem ajudar a atravessar este período desafiador. Lembre-se que o luto não é linear e essas dicas podem ser revisitadas em diferentes momentos.


1. Permita-se Sentir, Sem Julgamentos: Acolha suas emoções. É natural sentir um turbilhão de coisas: tristeza profunda, raiva, confusão, culpa e até alívio. Não tente reprimir a dor nem se julgar por senti-la. Expressar esses sentimentos é o primeiro passo para processá-los, em vez de permitir que eles o controlem.


2. Diferencie o "Sentir" do "Apego à Dor": Aqui reside um ponto crucial e paradoxal do luto. Enquanto o item anterior o encoraja a sentir, este o convida a observar seus sentimentos sem se prender a eles. Preste atenção a possíveis comportamentos de manutenção da dor — padrões de pensamento ou ações que o mantêm fixado no sofrimento, como remoer incessantemente a perda ou se isolar de qualquer possibilidade de alegria. Muitas vezes o sofrimento pela perda parece ser o único vínculo afetivo que resta, mas as é vital entender que sofrer menos não significa que a pessoa amada foi esquecida ou que o amor diminuiu. Significa que você está aprendendo a integrar a perda e a carregar o amor pela pessoa de uma nova maneira, que permite que a vida continue. Ser verdadeiramente grato(a) pelo tempo que pôde viver com a pessoa querida e cultivar a saudade com carinho são o segredo aqui.


3. Cuide de Si, o Básico é Essencial: Mantenha uma alimentação minimamente saudável, hidrate-se, tente dormir e, se possível, faça pequenas caminhadas ou qualquer atividade física leve. Seu corpo e sua mente estão sob um estresse imenso e precisam de cuidados básicos para ter a energia necessária para o processo de luto.


4. Mantenha Conexões Humanas: Converse com amigos e familiares em quem confia, mesmo que por pouco tempo. Diga a eles o que você precisa: talvez apenas a companhia silenciosa, um ombro para chorar ou ajuda com tarefas práticas. O isolamento pode intensificar a dor.


5. Respeite Seu Próprio Tempo e Ritmo: Não existe um cronograma para o luto. Ignore a pressão interna ou externa para "superar" ou "voltar ao normal". O luto é um processo único e pessoal. Haverá dias melhores e piores. Seja paciente e gentil consigo mesmo.


6. Crie Rituais de Memória e Despedida: Participar de funerais e cerimônias ou criar seus próprios rituais — como acender uma vela, escrever uma carta, visitar um lugar especial ou criar um pequeno memorial — são passos importantes para processar a perda, honrar a memória e auxiliar na despedida simbólica.


7. Adie Grandes Decisões: Se possível, evite tomar decisões que mudarão sua vida (como mudar de casa, pedir demissão ou iniciar um novo relacionamento) no auge do luto. Sua capacidade de julgamento pode estar alterada, e é prudente esperar até que você se sinta mais estabilizado(a).


8. Considere Grupos de Apoio: Compartilhar suas experiências com outras pessoas que entendem exatamente o que você está passando pode trazer um imenso alívio e validação. Ouvir outras histórias e perspectivas pode fazer com que você se sinta menos sozinho(a) em sua dor.


Encontre Apoio Profissional para o Luto

O luto é um processo singular. Cada pessoa atravessa a perda de maneira única, pois o vínculo que se rompe é sempre singular. Não há um caminho linear ou uma fórmula pronta para superá-lo, mas há formas de compreendê-lo e acolhê-lo sem que ele se torne um peso insuportável.

A psicoterapia não busca acelerar ou eliminar o luto, mas oferecer um espaço de escuta onde ele possa ser vivido e elaborado sem pressa, permitindo que a perda encontre um lugar dentro da história de quem a sente.

Lidar com o luto é um caminho que não precisa ser percorrido sozinho. Se você está vivenciando uma perda e sente que precisa de ajuda para lidar com a dor e seguir em frente, o apoio de um psicólogo ou psicanalista pode fazer toda a diferença. Um profissional qualificado oferece o acolhimento e as ferramentas necessárias para que você possa vivenciar seu luto de forma construtiva.


Se sente que precisa de um espaço de acolhimento para lidar com uma perda, entre em contato e agende uma conversa inicial. O luto não precisa ser atravessado sozinho.



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